Após abrir o capital nos Estados Unidos, a rede de churrascarias Fogo de Chão quer agradar um público tão exigente quanto seus clientes, para continuar crescendo: os investidores
02/09/2015 18:00
Por: André Jankavsk
Criada no final dos anos 1970 pelos irmãos gaúchos Arri e Jair Coser, em Porto Alegre, a rede de churrascarias Fogo de Chão é tão famosa nos Estados Unidos quanto a bossa nova e o futebol. Com 26 restaurantes no mercado americano – contra apenas 10 unidades no Brasil e uma no México –, a empresa faz sucesso com os gringos com suas carnes nobres e seus cortes especiais. Adquirida em 2012 pelo fundo americano THL, por US$ 400 milhões, a rede faturou US$ 262,3 milhões no ano passado e precisa, agora, conquistar os investidores. Após uma forte alta de 28% na abertura de capital na Nasdaq, quando captou US$ 88,2 milhões em junho, a empresa passou a ser vista com reservas por alguns bancos e corretoras. O valor da ação, que chegou a atingir US$ 25,65 na semana de sua estreia na bolsa, caiu para US$ 18,31, na quinta-feira 27, uma desvalorização de cerca de 30%. Com isso, o objetivo de triplicar os atuais 37 restaurantes precisará ser feito de maneira ainda mais rápida do que a previamente planejada pelo CEO Larry Johnson.
Segundo Johnson, a expansão da Fogo de Chão se dará especialmente no mercado americano, considerado o de maior potencial de crescimento. A previsão de aberturas nos Estados Unidos é de, no mínimo, cinco restaurantes por ano. Cada loja deve exigir investimentos de US$ 5 milhões. No Brasil, a empresa também pretende inaugurar o mesmo número de unidades, mas até 2018. “Cinco será o máximo, mas se abrirmos apenas três, nos daremos por satisfeitos”, diz Johnson. Fora dos Estados Unidos, a estratégia é crescer através de joint ventures, como aconteceu no México, neste ano. A empresa também tem planos para o Canadá, Inglaterra, Alemanha e Austrália, mas ainda sem datas definidas. “Queremos que a nossa expansão seja disciplinada”, afirma o executivo.
Com isso, a Fogo de Chão espera superar o ceticismo dos analistas e dos bancos americanos, que fixaram entre US$ 22 a US$ 27 o preço-alvo dos papéis, valor pouco maior que os US$ 20 do lançamento, em junho. Dos seis bancos que divulgaram seus relatórios, apenas três recomendam a compra: Piper Jaffray, Wells Fargo e Jefferies. A operação brasileira explica, em parte, a cautela dos investidores em relação à Fogo de Chão. A turbulência na economia do País tem feito o consumo em restaurantes despencar neste ano. Segundo a consultoria paulistana ECD, especializada em serviços de alimentação, o movimento caiu 15%. O tombo da Fogo de Chão no segundo trimestre foi ainda maior. Devido à base de comparação com a época da Copa do Mundo no Brasil, a receita da companhia no País se retraiu 33,8%, para US$ 12,1 milhões. Nos Estados Unidos, o faturamento no mesmo período foi de US$ 56,1 milhões, aumento de 11,6%. “No Brasil, a carne também está virando uma vilã para a vida saudável”, diz Enzo Donna, analista da ECD. “Já no exterior, o sistema de rodízio ainda é visto como inovador.”
Apesar do desempenho abaixo do esperado no Brasil, a empresa sabe que não pode esquecer as suas raízes. Por isso, busca exportar produtos típicos locais, como o polvilho, utilizado na preparação do pão de queijo, e a cachaça, além de profissionais brasileiros, em especial oriundos do Sul do País, que são chamados de gaúchos pela companhia, independentemente de seu Estado de origem. Dos 25 restaurantes localizados nos Estados Unidos, apenas um não é comandado por um desses “gaúchos”. “Eles são os principais responsáveis pelo treinamento dos funcionários estrangeiros”, diz Johnson. Para estimular o crescimento dos empregados brasileiros no exterior, a Fogo de Chão subsidia aulas de inglês quando ainda estão no Brasil. O próprio presidente da Fogo de Chão, no Brasil, Jandir Dalberto, começou como garçom da rede.